O Sal da Língua

Sons organizados de forma a exprimirem uma grande variedade de emoções.

Archive for February, 2008

Espelho d’alma #5

Wake… from your sleep
The drying of your tears
Today.. we escape
We escape.

Pack and get dressed
Before your father hears us
Before.. all hell.. breaks loose.

Breathe… keep breathing
Don’t lose.. your nerve.
Breathe… keep breathing
I can’t do this… alone.

Sing us a song
A song to keep us warm
There’s such a chill
Such a CHILL.

You can laugh
A spineless laugh
We hope your rules and wisdom choke you
Now we are one
In everlasting peace

We hope that you choke… that you choke

Vampire Weekend, Exit Music (For a Film) (Original Radiohead, OK Computer, 1997)

Espelho d’alma #4

Vale a pena ver
castelos no mar alto
Vale a pena dar o salto
pra dentro do barco
rumo à maravilha
e pé ante pé desembarcar na ilha
Pássaros com cores que nunca vi
que o arco-íris queria para si
eu vi
o que quis ver afinal

É tão bom uma amizade assim
Ai, faz tão bem saber com quem contar
Eu quero ir ver quem me quer assim
É bom pra mim e é bom pra quem tão bem me quer

Vale a pena ver
o mundo aqui do alto
vale a pena dar o salto
Daqui vê-se tudo
às mil maravilhas
na terra as montanhas e o mar as ilhas
Queremos ir à lua mas voltar
convém dar a curva
sem se derrapar
na avenida do luar

Sérgio Godinho, É Tão Bom (Os Amigos de Gaspar, 1988, tocado ao vivo em 2007)

Street Feeling

Zita Swoon, numa qualquer rua de Antuérpia.

Jintro & the Great Luna, Zita Swoon (original Moondog Jr.)

Espelho d’alma #3

The boy with the thorn in his side
Behind the hatred there lies
A murderous desire for love
How can they look into my eyes
And still they don’t believe me?
How can they hear me say those words
Still they don’t believe me?
And if they don’t believe me now
Will they ever believe me?
And if they don’t believe me now
Will they ever, they ever, believe me?

The boy with the thorn in his side
Behind the hatred there lies
A plundering desire for love
How can they see the love in our eyes
And still they don’t believe us?
And after all this time, ah
They don’t want to believe us
And if they don’t believe us now
Will they ever believe us?
And when you want to live
How do you start?
Where do you go?
Who do you need to know?

The boy with the thorn in his side (Scott Matthews cover)

Mark Ronson, Version

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Este é um dos discos mais espectaculares do último ano, já que foi originalmente lançado em Abril de 2007. E emprego este adjectivo no verdadeiro sentido da palavra. Mark Ronson é o produtor de algumas das estrelas do momento (Lily Allen, Amy Winehouse, Robbie Williams e Christina Aguilera), para além de ser uma das figuras mais influentes do meio musical da actualidade enquanto produtor, mas também enquanto fundador da Allido Records. Version pode ser encarado como um exercício de diversão de Ronson para o qual chamou alguns dos artistas que produz. O momento alto é Stop Me (versão de Stop Me If You Think You’ve Heard This One Before dos The Smith) que foi um hit no Reino Unido no final do ano passado. Version é composto por temas muito dançáveis, factor que pode fazer com que o ouvido menos atento não preste a devida atenção ao trabalho de estúdio e aos arranjos soberbos que aqui podemos encontrar. Excelentes temas que, na maior parte dos casos, dão excelentes versões.

Nota de Sal: 7/10

Sons and Daughters, This Gift

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Disco repleto de bons temas rock melódicos e bem arranjados. O ritmo bem compassado deste This Gift não permite a existência de temas mais sensaborões ou indiferentes. Existe aqui uma atenção especial pelos arranques dos temas, facto tantas vezes desprezado no rock e no pop. A verdade é que um bom arranque para uma música é meio caminho andando para uma opinião positiva. Aqui, o primeiro impacto é apelativo e desperta os sentidos para o que aí vem. E há pouco espaço para desilusões. Os Sons and Daughters fazem lembrar ora os The Magic Numbers ora os The Long Blondes e estas não deixam de ser referências de valor.

Nota de Sal: 6.5/10
Referências: The Magic Numbers, The Long Blondes

Espelho d’alma #2

In the port of Amsterdam
There’s a sailor who sings
Of the dreams that he brings
From the wide open sea
In the port of Amsterdam
There’s a sailor who sleeps
While the river bank weeps
To the old willow tree

In the port of Amsterdam
There’s a sailor who dies
Full of beer, full of cries
In a drunken town fight
In the port of Amsterdam
There’s a sailor who’s born
On a hot muggy morn
By the dawn’s early light

In the port of Amsterdam
Where the sailors all meet
There’s a sailor who eats
Only fish heads and tails
And he’ll show you his teeth
That have rotted too soon
That can haul up the sails
That can swallow the moon

And he yells to the cook
With his arms open wide
“Hey, bring me more fish
Throw it down by my side”
And he wants so to belch
But he’s too full to try
So he stands up and laughs
And he zips up his fly

In the port of Amsterdam
You can see sailors dance
Paunches bursting their pants
Grinding women to porch
They’ve forgotten the tune
That their whiskey voice croaked
Splitting the night
With the roar of their jokes
And they turn and they dance
And they laugh and they lust
Till the rancid sound of the accordion bursts
And then out of the night
With their pride in their pants
And the sluts that they tow
Underneath the street lamps

In the port of Amsterdam
There’s a sailor who drinks
And he drinks and he drinks
And he drinks once again
He’ll drink to the health
Of the whores of Amsterdam
Who’ve given their bodies
To a thousand other men
Yeah, they’ve bargained their virtue
Their goodness all gone
For a few dirty coins
Well he just can’t go on
Throws his nose to the sky
And he aims it up above
And he pisses like I cry
On the unfaithful love

In the port of Amsterdam
In the port of Amsterdam

David Bowie, Amsterdam (“Sorrow” B-Side, Pin Ups, 1973)

Take 4

I’m Rollin’ – Solal ft. The Nashville Bluegrass Band
The Grand Duchess of San Francisco – American Music Club
The Flicker of a Little Girl – Tindersticks
Cracking Up – The Jesus and Mary Chain
The Nun’s Litany – The Magnetic Fields
Doves Circled the Sky – Bodies of Water
Cold Shoulder – Adele
Oh My God – Mark Ronson ft. Lily Allen
When a Pretty Face – Adam Green
Gilt Complex – Sons and Daughters
Weekend Without Makeup – The Long Blondes
All My Friends – Franz Ferdinand
Words You Used to Say (Sand Pebbles Remix) – Dean & Britta
Enchanted – Patrick Wolf
Soul Singer in a Session Band – Bright Eyes

Espelho d’alma (génese)

The secrets that I do not know
I cannot understand them
A wanted series printed over
Words are his defences

The battle bracelets do not fit
My favourite gladiator
A fanatic hero piously
Has to be a faker

He is a dangerous creator
A master in his mortal cave
I am a savage violator
A valet innocent and vain

Nico, Innocent and Vain (The End, 1974)

Indie gospel

(achei o termo tão delicioso que merecia um título de post)

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Um dos argumentos que mais tenho ouvido por aí é que não há tempo nem ouvidos para tanta música que vai estando disponível. Consigo entender este argumento, mas coloco o assunto numa perspectiva diferente. Confesso que ouço muito música, quer em variedade quer em quantidade, tal é a paixão. Por vezes, a audição é mesmo única, mas outras chega à beira do vício, tantas são as repetições. Mas é sobre outras ocasiões que venho falar. Quando um disco só nos atinge algum tempo depois de o ouvirmos, por saudade daquele encontro único. Falo, por exemplo, nos Bodies of Water. Ouvi falar neles pela primeira vez num dos inúmeros tops a que tivemos acesso no final do ano passado. A origem é para mim insuspeita, trata-se de um dos meus blogues de eleição. Na altura, achei-os no mínimo originais, mas digamos que passei à frente. Hoje, voltaram e com que esplendor! Melodias simples, mas maravilhosas. Todos os músicos entram no coro, mesmo que, por vezes, pareçam desafinar. Mas até nos exageros de tom são tão singelos e bonitos na inocência que demonstram que só dá vontade de os acompanhar nos refrões, de preferência ao ar livre num dia de sol. São definitivamente indie e quase sempre gospel.

Deixo a amostra:

Psychocandy/Distortion

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Numa entrevista recente para a The Word, Stephin Merritt defende que Psychocandy dos The Jesus and Mary Chain foi o último grande disco da história do rock. Neste registo de 1985 os Mary Chain conceberam o primeiro LP gravado integralmente com a utilização de feedback. Foi sensação na altura e deram origem à última grande inovação de estúdio. O feedback e a distorção foram daí em diante utilizados em maior e menor escala, por vezes levados até ao limite. No mês passado, os Magnetic Fields editaram Distortion, disco completamente gravado com feedback, à excepção das pistas de voz e bateria. Não será propriamente uma homenagem a Psychocandy, pretende antes seguir literalmente as pisadas técnicas da última grande revolução rock. Escusado será dizer que, para Merritt, o rock está inventado na sua plenitude, tudo o mais são caminhos que se voltam a percorrer. Aqui, é o caminho da distorção, com o toque de Midas dos Magnetic Fields.

American Music Club, The Golden Age

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The Golden Age assinala o regresso em 2008 dos American Music Club, autênticos “pais” de culto da música indie em todo o mundo e o berço musical de Mark Eitzel, uma das figuras mais interessantes da actualidade, a par de Stephin Merritt, Stuart Staples ou Kurt Wagner. Ostentam uma carreira com cerca de 25 anos e são responsáveis por muitos dos caminhos desbravados pela música que nos trouxeram até aos dias de hoje. Foram dos primeiros a juntar num só género as raízes musicais norte-americanas com influências diversas, concebendo uma sonoridade eclética e única. Everclear foi a sua obra de arte e dificilmente conseguirão outro trabalho com a mesma classe, mas também os tempos são outros. The Golden Age é um disco muito bem conseguido, que contém todas as diferentes facetas dos AMC. Existem temas a lembrar o (famoso) sadcore dos Tindersticks. Em I Know That’s Not Really You percebe-se onde bandas como os Calexico foram buscar a razão de existir. É um disco cheio de boas canções, daquelas que facilmente se tornam na música das nossas vidas. Estes senhores são músicos de categoria e isso nota-se de perto e ao longe. É mais um degrau que Mark Eitzel sobe na direcção dos grandes compositores e letristas dos nossos temas. Indispensável.

Nota de Sal: 9/10
Referências: Lambchop, Low

Adam Green, Sixes and Sevens

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Adam Green é mais um cantautor norte-americano que começa a afirmar-se na cena musical alternativa internacional. Desde o início da carreira que Green se tem dedicado a não seguir as convenções estabelecidas da folk e do rock do século passado, criando uma fórmula musical bastante apelativa que joga com essas convenções através subversão da própria estrutura da canção e das referências consideradas intocáveis até pela música moderna. Ou ouvir este Sixes and Sevens tem-se a sensação de que já se ouviu isto em qualquer lado, mas tocado de forma diferente e mais “normal”. É bem provável que tal seja verdade, mas Adam Green constrói um disco muito bem elaborado e sequenciado que, no final, soa a original e dá vontade de repetir a dose com bastante frequência, no meio de tantos bons riffs e de letras recheadas de bom humor e sempre bem enquadradas. Green demonstra um bom conhecimento da história da música pop, folk e rock do país natal e elabora um belo compêndio através de pedaços e excertos dessa mesma história, dispostos com originalidade e que mantêm o interesse do início ao fim. O potencial de vício é grande.

Nota de Sal: 8.5/10
Referências: Bright Eyes, Patrick Wolf

Adele, 19

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Existe a tendência recorrente de, após cada fenómeno meteórico e inesperado, aparecerem uma série de réplicas mais ou menos idênticas, mais ou menos necessárias. O fenómeno Amy Winehouse teve tanto de inesperado como de meteórico. Já cansados de tanta reabilitação falhada, de folhetins e novelas, houve a necessidade de procurar e valorizar artistas de valor semelhante, mas sem tanto ruído à volta. Adele é mais jovem que Winehouse, logo traz menos episódios problemáticos em anexo. Não tem problemas de anorexia, antes pelo contrário. Não tem um historial de abuso de álcool e drogas, para além da ocasional noitada. Canta igualmente bem, ou melhor. E as músicas são de uma beleza desesperante, por entre corações partidos e amores impossíveis. Pessoalmente, prefiro esta versão. O soul e a pop recicladas de Winehouse estão lá, mas sem a dose narcótica que já deixa muito a desejar. Muito recomendável.

Nota de Sal: 7/10
Referências: Amy Winehouse, Regina Spektor

British Sea Power, Do You Like Rock Music?

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Tem sido com imenso gozo que tenho vindo a ouvir este disco e falar sobre estes quatro tipos do countryside britânico que levam o rock desta forma tão respeitosa é um gosto ainda maior.

Desde a sua formação em 2000 que os British Sea Power se habituaram a tocar ao vivo nos locais mais improváveis. Fizeram questão de ir tocar às terriolas britânicas de quem a maioria dos Ingleses nunca ouviu falar e apresentaram-se nas espeluncas mais saloias de Inglaterra. Tudo em busca da identidade rock, e numa escala maior, á procura da própria identidade britânica. Encaram de frente os episódios históricos mais sombrios e esquecidos da História do país natal e exibem com alarde a memorabilia de outrora na forma de vestuário e bandeiras da época. Cantam as catástrofes naturais (Canvey Island) e as batalhas perdidas. Com ligação aos movimentos migratórios na Europa da actualidade (Waving Flags). E são uma banda verdadeira rock também por isto. A discussão sobre o que é rock e o que não é tem estado na ordem do dia e os British Sea Power são abertamente rock. Talvez como poucos ainda o sejam. Portanto, a resposta à pergunta colocada no nome do disco é sim. Muito.

Numa nota à parte, é curioso como são, visualmente, semelhantes aos nossos Heróis do Mar. As roupas bélicas, a pose orgulhosa, as bandeiras ao vento. Duvido que os BSP tenham alguma vez ouvido falar nos Heróis, mas os pontos comuns são evidentes. A busca da identidade perdida a começar pelos momentos traumáticos, vinte anos depois num país diferente.

Tenho por hábito dizer “Está lá tudo” e é com All In It que abre “Do You Like Rock Music?”. É que está mesmo. Este é o primeiro grande disco pop rock de 2008. Que seja bem-vindo, então.

Nota de Sal: 10/10
Referências: Arcade Fire, Manic Street Preachers