O Sal da Língua

Sons organizados de forma a exprimirem uma grande variedade de emoções.

Archive for March, 2008

Silver Jews, Lookout Mountain, Lookout Sea

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Conheci os Silver Jews na mesma (gloriosa) fase em que fui apresentado a bandas como Okkervil River, The National e My Morning Jacket. Colocando de lado os The National, que começam a atingir a fase de saturação que acompanha sempre a fama descompensada, estas bandas conquistaram-me pela aparência adulta e nightclublin’ que ostentavam em cada canção. Como se cada tema resultasse de uma experiência de vida dolorosa, episódios doces ou amargos que conheciam a luz do dia tocadas só daquela forma. Os Silver Jews distinguiam-se (naquela altura com Tanglewood Numbers) por uma voz que conseguia ser tanto Cash como Reed, conforme a disposição do tema. David Berman, o vocalista, tem obra poética publicada, o que justifica muitas das letras bem à frente da banalidade reinante. É pena que os riscos que se correm actualmente com a música não sejam acompanhados por maior ousadia na escrita. Lookout Mountain, Lookout Sea é a obra maior dos Jews, um conjunto de temas difícil de descrever. É verdade que se trata do típico indie rock, mas há ali qualquer coisa de intemporal que me faz acreditar que este é um disco para muitos anos. Um tremendo respeito pelas fontes de inspiração na forma de disco.

Nota de Sal: 9/10
Referências: Tindersticks, The National

Cut Copy, In Ghost Colours

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A pop electrónica é aquele estilo musical que está sempre na moda. Ou, pelo menos, existe sempre um público fiel para as batidas certeiras com refrões pinga-amor. Antes que as minhas palavras sejam mal interpretadas, eu gosto dos Cut Copy e da sonoridade que conseguiram com In Ghost Colours. Os sintetizadores não deixam de fazer lembrar ora Pet Shop Boys ora Depeche Mode, mas a verdade é que há um bom gosto inerente às opções que os músicas tomam ao longo de todo o disco. Há também qualquer coisa de romântico na forma com que as influências (naturalmente) eighties são assumidas. E claro, os indispensáveis singles. Feel The Love e Hearts On Fire são realmente fortes e com grande potencial de pista de dança/airplay. Este pode ser um ano bom para os Cut Copy, recuperando um pouco o que os !!! fizeram em 2007.

Nota de Sal: 7,5/10
Referências: Hot Chip, Junior Boys

These New Puritans, Beat Pyramid

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Quarteto britânico que faz da fusão de influências o seu estilo musical. Já deu para perceber que 2008 vai ser o ano da afirmação das “bandas MySpace”, especialmente aquelas que foram capazes de ir mais longe no assumir dos riscos. Claro que esse risco só é possível quando pouco se tem a perder e a criatividade anda à solta. O “problema” é que hoje qualquer banda que decida colocar música disponível online (o MySpace é o rosto mais visível deste fenómeno) está sujeito ao olhar atento de promotores e editoras. E do obscurantismo à fama (mesmo que limitada a um estilo musical) vai o espaço de quinze segundos. Os These New Puritans necessitam talvez de um single mais forte que Elvis (que já é bem conseguido) para atingirem uma notoriedade maior, mas este Beat Pyramid é um bom exemplo do que se pode conseguir com boa bagagem musical e coragem.

Nota de Sal: 6,5/10
Referências: Vampire Weekend, The Maccabees

Atlas Sound, Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel

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Let The Blind Lead Those Who Can See But Cannot Feel é o que acontece quando a música ambiente e a música alternativa se encontram. Estranhamente, esta é uma fusão pouco usada, talvez porque a ousadia necessária será muita. Bradford Cox é o elemento único do projecto Atlas Sound, depois de os seus Deerhunter terem tido um excelente 2007 com Cryptograms. As paisagens musicais variam, existem momentos próximos da estrutura de canção convencional, onde a escapatória é feita muitas vezes à maneira Sonic Youth. Por outro lado, os momentos mais contemplativos, feitos de camadas musicais densas e sobrepostas, também abundam e é aqui que o talento de Cox vem à tona. Mais uma mente perturbada na música alternativa/indie/moderna/ambiente? Aparentemente, a resposta é sim.

Nota de Sal: 7/10
Referências: Stars of the Lid, Caribou

Estado d’Alma #15

Just because I don’t say anything
Doesn’t mean I don’t like you
I open my mouth and I try and I try
But no words came out

Without 40 ounces of social skills
I’m just an ass in the crack of humanity
I’m just a huge manatee
A huge manatee

And besides, you’re probably holding hands
With some skinny, pretty girl
That likes to talk about bands
And all I want to do is ride bikes with you
And stay up late and watch cartoons

DuckTales, Shirt-Tails, TaleSpin, Sailor Moon
GI Joe, Robotech, Ron Jeremy, Shmoo

I want to watch cartoons with you
Josie and the Pussycats and Scooby-Doo
I want you to watch cartoons with me
He-man, Voltron, and Hong Kong Phooey

I tried to ask you to your face
But no words came out
Put on my hood and walked away

That doesn’t mean I don’t like you
And besides you’re probably holding hands
With some skinny pretty girl
That likes to talk about bands
And all I want to do is ride bikes with you
And stay up late and maybe spoon

Just because I don’t say anything
Doesn’t mean I don’t like you, no
I opened my mouth and I tried and I tried
And besides, you’re probably holding hands
With some skinny pretty girl
That likes to talk about bands
And all I want to do is ride bikes with you
And stay up late and watch cartoons

I’m just your average Thundercats hoooo!

Nothing Came Out, The Moldy Peaches (1991)

Take 8

Regresso ao blogue e à emissão, após uma ausência forçada por doença.

Este take 8 surge por solicitação dos maiores desportistas que conheço, os meus pais. Assim aqui ficam sons para treino/competição.

I: LCD Soundsystem
Thunderstruck: AC/DC
Go West: Pet Shop Boys
Brakes On: Air
Jericho: Asian Dub Foundation
Treat Me Mean, I Need the Reputation: Xploding Plastix
Soy Loco Por Ti America: Caetano Veloso
Alala: Cansei de Ser Sexy
Song 2: Blur
Cish Cash: Basement Jaxx ft. Siouxsie Sioux
Another Excuse: Soulwax (DFA Remix)
Anything New: Digitalism
Superstylin’: Groove Armada
Never Win: Fischerspooner
Easy Love: MSTRKRFT
Feel Good Inc.: Gorillaz
4D: Bill Laswell
Help!: The Beatles
The Salmon Song: The Chemical Brothers
Bang On!: Propellerheads
Big Time Sensuality: Bjork
Over the Ice: The Field
Slow Hands (Britt Daniel Remix): Interpol
Rainin’ in Paradize: Manu Chao
Hasta Siempre Comandante: Robert Wyatt
Won’t Get Fooled Again: The Who
Raining Again: Moby
Amor (versão nocturna): Heróis do Mar
One More Time: Daft Punk
Phantom: Justice
Fly Paper: K-OS
Mansard Roof: Vampire Weekend
Lust for Life: Iggy Pop
Dare: Gorillaz (DFA Remix)
Silent Shout: The Knife
The Contemporary Fix: Lindstrom
Must Be the Moon: !!!
Tits & Acid: Simian Mobile Disco
You Gonna Want Me: Tiga
Blackened: Metallica
Seven Nation Army: The White Stripes
Because We Can: Moulin Rouge OST
Pomp and Circunstance N. 4 (Abridged): Edward Elgar

Devotchka, A mad & faithful telling

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How It Ends e sobretudo Curse Your Little Heart são dois bons discos, recheados de fanfarras, baladas e músicas de baile em geral, com apontamentos discretos de country e blues à mistura. No entanto, faltava qualquer coisa, dava a sensação de que os Devotchka podiam ser ainda mais espremidos. Felizmente, A mad & faithful telling veio confirmar isto mesmo. Confesso que sou tendencioso com tudo o que mistura e faz interagir sonoridades tradicionais com tendências modernas e quanto mais excêntrico melhor. Mas os Devotchka abrangem uma série de aspectos que me enchem as medidas. A minha fixação por Calexico e Beirut ou mesmo Gogol Bordello é indisfarçável, mas deposito grandes esperanças nestes rapazes. Porque são capazes de nos fazer deslocalizar geograficamente, o que Kusturica ou os Calexico, por exemplo, não conseguem. Apesar das tendências sonoras serem evidentes, a música dos Devotchka não tem espaço nem tempo. Parece que foi inventada ali, naquele momento, de improviso, num qualquer palco ou salão de baile. Emocionalmente são fortíssimos, com uma excelente gestão dos tempos e das instrumentalização. Undone é de ir às lágrimas. Blessing in disguise, à boa maneira de Beirut, é digno de um qualquer final de filme em apoteose. E Basso profundo pode ser o single que dará visibilidade ao disco.

Nota de Sal: 8,5/10
Referências: Emir Kusturica, Beirut

Guillemots, Red

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O regresso aguardado dos Guillemots, dois anos depois do prometedor Through The Window Pane. É certo que as promessas são cumpridas na generalidade, com alguns temas a estarem à altura das expectativas. O single de apresentação, Get Over It, é forte, o que é meio caminho andado para Red ser bem recebido. Não existem surpresas quanto à sonoridade, os Guillemots continuam sólidos, coerentes, originais. Com os necessários picos de emotividade que os caracterizaram no registo anterior, com associação imediata a James Dean Bradfield dos Manics – inevitável, mas não negativa. Um bom disco de afirmação.

Nota de Sal: 7/10
Referências: Manic Street Preachers, Mystery Jets

PS. A versão pre-release fake que circulou por estas semanas e que enganou algumas almas ingénuas (eu incluído) pertence ao projecto T do músico francês Thomas Walter e foi a primeira vez que um fake se mostrou minimamente interessante.

Estado d’alma #14

A propósito de uma menina que nos emocionou hoje.

Come gather ’round people
Wherever you roam
And admit that the waters
Around you have grown
And accept it that soon
You’ll be drenched to the bone.
If your time to you
Is worth savin’
Then you better start swimmin’
Or you’ll sink like a stone
For the times they are a-changin’.

Come writers and critics
Who prophesize with your pen
And keep your eyes wide
The chance won’t come again
And don’t speak too soon
For the wheel’s still in spin
And there’s no tellin’ who
That it’s namin’.
For the loser now
Will be later to win
For the times they are a-changin’.

Come senators, congressmen
Please heed the call
Don’t stand in the doorway
Don’t block up the hall
For he that gets hurt
Will be he who has stalled
There’s a battle outside
And it is ragin’.
It’ll soon shake your windows
And rattle your walls
For the times they are a-changin’.

Come mothers and fathers
Throughout the land
And don’t criticize
What you can’t understand
Your sons and your daughters
Are beyond your command
Your old road is
Rapidly agin’.
Please get out of the new one
If you can’t lend your hand
For the times they are a-changin’.

The line it is drawn
The curse it is cast
The slow one now
Will later be fast
As the present now
Will later be past
The order is
Rapidly fadin’.
And the first one now
Will later be last
For the times they are a-changin’.

Bob Dylan, The times they are a-changin’ (1964)

Isto começa a ser ridículo

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Não há volta a dar, a nova mina de ouro da publicidade em Portugal são os festivais de Verão. Agora que as marcas (vou passar ao lado dos nomes, são repetidos com insistência suficiente um pouco por todo o lado) perceberam o tipo de bandas que levam o público pagante aos festivais, aquele que paga as vezes suficientes os preços que forem pedidos pelas promotoras, preparamo-nos para um Verão único até hoje. E agora é anunciado que Leonard Cohen e Lou Reed vão estar em Lisboa no mesmo dia. Chega a ser ridículo.

As minhas escolhas caíram em Cat Power e Beirut e tenciono fugir dos festivais. Tenho pena por Bob Dylan, mas algo me diz que o que vai passar por cá é um sombra do homem que já foi e eu prezo muito da imagem mental que tenho do senhor para a alterar. Perdi Portishead por dias e vou tentar estar longe da Aula Magna no dia de The National, porque existe uma forte ameaça de o público subitamente esquecer que está a ver uma das melhores bandas da actualidade e os confundir com os Tokyo Hotel nos muitos acessos de euforia juvenial que se aguardam. Para além disso, aprendi à minha custa que é errado ver as bandas que gostamos fora do tempo certo.

Take 7

Time to Pretend: MGMT
Hang Them All: Tapes N’ Tapes
Cheap and Cheerful: The Kills
Mr. E’s Beautiful Blues Remix: Eels
Elvis: These New Puritans
Feel the Love: Cut Copy
We Are Rockstars: Does It Offend You, Yeah?
Raise Me Up: Hercules & Love Affair
Young Love: Mystery Jets
Cruel to be Kind: Nick Lowe
The Couples: The Long Blondes
Dig Lazarus Dig!!!: Nick Cave & the Bad Seeds
When They Come to Murder Me: Black Francis
Stormy High: Black Mountain
I Got Mine: Black Keys
Tomorrow: Clinic
Island on the Coast: Band of Horses
Down on the Ground: British Sea Power
Deft Left Hand: Babyshambles
Basso Profundo: Devotchka

Holler, Wild Rose!, Our Little Hymnal

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Os Holler, Wild Rose! estiveram os dois últimos anos a preparar o seu disco de estreia, Our Little Hymnal, e isso nota-se com alguma facilidade num trabalho repleto de detalhes apurados até ao limite e toques e retoques de produção. Disco feito da dedicação dos músicos em volta de um conceito que é absolutamente original na sonoridade apresentada. As influências vão desde os Explosions in the Sky aos Sigur Rós, dos Radiohead aos Low. Tocaram-me especialmente os temas onde a sensibilidade Sigur Rós se entrelaça com electricidade sufocante dos Explosions in the Sky. Poor In Spirit ou o grande Holler, Wild Rose!, que justifica por si só um disco e o nome da banda. A adquirir com determinação e a ouvir com carinho. É um disco grande.

Nota de Sal: 8/10
Referências: Explosions in the Sky, Sigur Rós

VHS Or Beta, Bring On The Comets

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Nesta fase é difícil distinguir os VHS Or Beta do single Can’t Believe A Single Word. A banda navega algures entre uns Franz Ferdinand e uns The Killers, sem nunca se aproximar demasiado de um ou de outro. Isto cria uma ambiguidade mais alargada, à qual Bring On The Comets não consegue fugir. É o disco de uma banda interessante à procura de voz própria. Há um potencial evidente, observável em temas como Take It Or Leave It, mas a falta daquele golpe de asa é gritante. A acompanhar.

Nota de Sal: 5/10
Referências: Franz Ferdinand, The Killers

MGMT, Oracular Spectacular

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Disco da semana, do mês, e possívelmente do primeiro trimestre. Aguardemos ainda pelo que nos reserva 2008 para mais avaliações.

Oracular Spectacular tanto pode soar a Bowie, como a Beck ou a FNM, outras vezes a Oasis. Mas é David Bowie (anos 70) que parece espreitar atrás de cada tema, de forma mais ou menos descarada, com um beat disco discreto, mas estrutural. São dez os temas que compõem Oracular Spectacular e os singles de elevada qualidade são, pelo menos, metade. É esta aliás a faceta mais surpreendente do disco, a facilidade com que este jovem duo de Brooklyn manipula instrumentos e mesas de mistura para conseguir chegar ao pote de ouro da música, seja qual for o género: o single perfeito. Time To Pretend, Weekend Wars, Kids, Electric Feel. É escolher. Por mim, rodam insistentemente e não há sinal de descanso. Não é isto que se espera da música, afinal?

Nota de Sal: 9,5/10
Referências: David Bowie

The Kills, Midnight Boom

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Regresso dos The Kills, aka Alison “VV” Mosshart e Jamie “Hotel” Hince, um dos “casais” da moda da música alternativa, com o aguardado disco da afirmação. Após o prometedor No Wow de 2005, esperava-se que Midnight Boom fosse o disco da notoriedade e da maioridade dos The Kills, capaz de lhes conceder maior airplay e chegar a salas de concerto maiores. Em entrevistas recentes, os músicos afirmavam esta mesma intenção, mas não deixa de ser curioso notar que neste Midnight Boom não existe o mínimo esforço de aproximação às “massas”. Iguais a si próprios, mantém o gosto por fugir à estrutura convencional de construções das músicas em volta dos refrões. Apesar disto, existem temas facilmente assimiláveis, como Tape Song ou Last Day of Magic (ponto alto do disco). Os The Kills querem ser reconhecidos pelas suas próprias características – uso e abuso de riffs em loop, samplagens e a grande presença da voz de Alison – e não cedem um milímetro que seja. Tal poderá afastá-los de lides e ambições maiores, mas contarão sempre com a fiel base de fãs já conquistada e com a auto-estima própria só dos musicos respeitáveis.

Nota de Sal: 7/10
Referências: Yeah Yeah Yeahs, The Raveonettes