O Sal da Língua

Sons organizados de forma a exprimirem uma grande variedade de emoções.

Archive for Calexico

Verão 2008 em Revista I

As minhas poucas comparências no blogue durante os dois últimos meses não se deveram à falta de discos em rotação, mas antes a uma intensa actividade familiar que pouco tempo deixa para respirar. Trata-se de uma fase de vida única que permite pouco tempo para a escrita, mas ainda algum para a vital escuta de música.
Deixei aqui ao lado em escuta alguns discos e é sobre alguns deles que não posso deixar de escrever no primeiro dos dois posts que se seguem. Comecemos, então.

Calexico, Carried to Dust

Nota de Sal: 8/10

O regresso em 2008 dos reis do country mariachi por quem o autor deste blogue tem um carinho especial. Nada do que fazem é mau, mas, neste caso, trata-se de um regresso sério de Burns e Convertino a áreas mais próximas de Feast of Wire, o disco mais marcante da banda.

 

The Hold Steady, Stay Positive

Nota de Sal: 9/10

Um dos discos rock do ano, se não mesmo o disco rock do ano. Quando falo aqui em rock, não falo em variantes mais ou menos modernas, mas no conceito mais puro, como se estes tipos tivessem passado a adolescência a ouvir Springsteen (e é provável que o tenham feito). A crueza e pujança da banda, já evidenciada anteriormente no fantástico Boys and Girls in America, tem neste Stay Positive uma continuação à altura, em que as personagens do disco anterior voltam a aparecer e a ser figuras principais de estórias urbanas de desgosto e falhanço, mas também de imensa alegria, quase sempre powered by Jack Daniels.

 

 

Weinland, La lamentor

Nota de Sal: 8/10

Rock suave com boas melodias e letras à medida. Este La lamentor merece um investimento e tempo dispendido na escuta. A compensação são temas belíssimos como Sick as a Gun ou God Here I Come. A simplicidade é tantas vezes a fórmula mais satisfatória de fazer passar mensagens.

The Walkmen, You & Me

Nota de Sal: 7,5/10

Pelo que já percebi, este será um dos discos mais falados nas listas de melhores do ano que nos chegam todos os meses de Dezembro. Os Walkmen são responsável por uma mistura bem interessante dos instrumentos rock clássicos com metais e teclados, quase sempre bom bons resultados. You & Me é um bom disco rock, com um tema bem conseguido e que tem tido bastante airplay: In the New Year. Mas o que se separa um bom disco rock como You & Me de, por exemplo, um esplêndido disco rock como o já aqui falado Stay Positive? A resposta é curta e simples: a consistência das letras, a narrativa bem estruturada, o fulgor. Mas os Walkmen têm tudo para, muito em breve, serem capazes de um disco extraordinário.

 

Laura Marling, Alas I Cannot Swim

Nota de Sal; 7,5/10

Laura é a estrela-folk-querida-que-despedaça-corações do momento. A melancolia está lá, a doçura da voz também, as guitarras suaves também. Ainda por cima, a rapariga escreve bem e consegue ser consistente ao longo de todo o disco. Alas I cannot swim é bonito. E muito viciante.

 

Mercury Rev, Snowflake Midnight

Nota de Sal: 7/10

É sempre com algum incómodo que escreve sobre músicos ou bandas que já foram marcantes e essenciais e que teimam em não desaparecer e, em alguns casos, renovar-se. Os Mercury Rev marcaram o final dos anos 90 com o marcante Deserter’s Songs, ícone da música moderna do final dessa década e inflûencia para uma série de novas bandas. Na altura, regeneraram o género Americana, trazendo modernidade a um género envergonhado e quase ultrapassado. Hoje, bandas como os Okkervil River e Band of Horses aproveitam o caminho desbravado pelos Mercury Rev. Mas o que dizer perante Snowflake Midnight, disco mais electrónico do que orgânico, onde sobressaem quase só beats retirados do Reaktor? É certo que foram bem retirados e que o psico-pop onírico se mantém intacto e atraente, mas… A dada altura de Senses on fire, Donahue canta “Ready or not here I come”. A questão é esta mesma. Estaremos prontos para estes Mercury Rev?

 

Noah and the Whale, Peaceful, The World Lays Me Down

Nota de Sal: 8,5/10

Fico sempre muito feliz quando encontro pérolas assim. Sim, reconheço que sou daqueles que tem especial prazer em descobrir bandas novas e mais ou menos periféricas. Este disco foi das minhas grandes descobertas do ano, já que nunca tinha ouvido falar nos Noah and the Whale (shame on me). Folk bem disposta e muitíssimo bem conseguida onde não se conseguem encontrar músicas menos interessantes. A riqueza de instrumentos é grande e a voz de Charlie Fink é capaz de assumir personagens diferentes com grande facilidade. Um mimo.

She and Him, Volume One

Nota de Sal: 8/10

A boa da Scarlett bem que podia ter posto os ouvidos nisto antes de se lançar na insanidade mental que foi Anywhere I Lay My Head. Não satisfeito com a carreira a solo, M. Ward juntou-se a Zooey Deschanel para formar a dupla She and Him (andaram concerteza a ouvir a Madalena Iglésias…). A grande diferença é que Zooey sabe realmente cantar, para além de tocar piano e banjo. Volume One é ternurento e romântico, com forte influência fifties e sixties. Melancólico q.b., com o condão de nos transportar para lugares e épocas diferentes. M. Ward resguarda-se quase sempre nas vozes, dando ideia que compôs temas que só Zooey podia cantar. O resultado é muito bom.

Conor Oberst, Conor Oberst

Nota de Sal: 7/10

O líder dos Bright Eyes, desta feita a solo. Um bom esforço do compositor que acredita em ovnis. Há bons temas neste disco, especialmente aqueles mais próximos da área de conforto dos Bright Eyes. Apesar de ser difícil deixar de considerar este disco mais uma aventura episódica do que um esforço a solo de futuro, há temas de valor que fazem com que este seja um disco a revisitar com frequência.

Micah P. Hinson and the Red Empire Orchestra

Nota de Sal:8/10

É certo que vivemos uma era de revival, onde vale ir repescar referências a qualquer década do século passado. Micah P. Hinson aproveita um pouco a onda, mas a diferença é que o senhor já vai no quarto disco de originais e é isto que sabe fazer melhor. Temas potentíssimos, cheios de feeling e letras abismais. É fácil de acreditar no que aqui é cantado, como se ouvíssemos alguém acabado de sair das experiências que são retratadas nas músicas. Um timbre de voz belíssimo e adaptável às mudanças de ritmo.

Take 18

Stranded Pearl: Giant Sand
Beast: Vincent Vincent and the Villains
No you didn’t No you don’t: The Courteeners
My Little Brother: Art Brut
Dead: The Bookhouse Boys
Fractured Air (Tornado Watch): Calexico
Jungle Drum: Emiliana Torrini
This is Not a Test: Sons & Daughters
Lady’s Bridge: Richard Hawley
Shimmering Dimmering Colored Ding: Belle Chase Hotel
Flowers and Football Tops: Glasvegas
Listening Man: The Bees
We Won’t Have to be Lonesome: Micah P. Hinson

Take 17

Aos entardeceres até ao pôr-do-sol na praia.
À maravilha de ver uma criança crescer todos os dias.

01 God Here I Come: Weinland
02 Two Silver Trees: Calexico
03 Pedalo: The Heart Strings
04 Shape of My Heart: Noah And The Whale
05 Singer Songwriter: Okkervil River
06 It’s That Time Again: The Dodos
07 Lord, I’m Discouraged: The Hold Steady
08 Tell Me It Ain’t So: Micah P. Hinson And The Red Empire Orchestra
09 Lenders in the Temple: Conor Oberst
10 While My Guitar Gently Weeps: George Harrison
11 Faraway From Cars: Mercury Rev
12 Canadian Girl: The Walkmen
13 Night Terror: Laura Marling
14 Suspended in Gaffa: Ra Ra Riot

Estado d’Alma #28


(a ouvir bem alto)

El Gatillo (Trigger Revisited), Calexico, Carried To Dust, 2008.

Take 16

On The Death Of The Waters: Shearwater
You / aurora / you / seaside: Get Well Soon
Hero Anthem: The Lionheart Brothers
Mi Viejo: Ratatat
People Magazine front cover: Get Well Soon
From: Dr. Dog
Hurricane Jane: Black Kids
Into the Galaxy: Midnight Juggernauts
50 Souls and A Discobowl: The Lionheart Brothers
White Winter Hymnal: Fleet Foxes
Hippy’s Son: Dirty Pretty Things
Napoleon on the Bellerophon: Beirut
Minas de Cobre (for better metal): Calexico
Not Nineteen Forever (Acoustic): The Courteeners

Take 11


Old Rock ‘n’ Roll Radio: Dead Combo
Touch ME I’m Going To Scream: My Morning Jacket
What U Gonna Do: Jim Noir
Hurricane: Jamie Lidell
Spit At Stars: Jack Peñate
Lucio Starts Fires: Joe Lean And The Jing Jang Jong
Fast Blood: Frightened Rabbit
Kelly Watch The Stars (Live BBC 1998): Air
Outro Futuro: Balla
Gravity: The Notwist
Anne: Santogold
Wondrous Place: The Last Shadow Puppets
Malcolm: Merz
At the sea: I Am Kloot
Bubbles: James
Burro: Beck
Guns of Brixton: Calexico

Take 10


Intro Nune: Radiohead
01 Breathing Prana: Chinmaya Dunster
02 To Build a Home: The Cinematic Orchestra
03 New Star in the Sky: Air
04 Jubilee: El Perro Del Mar
05 Skinny Love: Bon Iver
06 Come Tenderness: Lisa Gerrard
07 Teardrop: Massive Attack
08 Anjinho da Guarda: Três Tristes Tigres
09 Delicate: Damien Rice
10 Heartbeats: José González
11 Soon the Spring: Lasse Matthiessen
12 The Source: Deuter
13 Reciting the Airships: Eluvium
14 Divine: Antony and the Johnsons
15 Serpentine: Chris Bathgate
16 Agaetis Byrjun (accoustic): Sigur Rós
17 Fake Plastic Trees (accoustic): Radiohead
18 Severance: Dead Can Dance


19 Lovely Lovely Love: Alaska in Winter
20 Strange Invitation: Beck
21 Sea of Love: Cat Power
22 Just Like a Woman: Charlotte Gainsbourg & Calexico
23 Doctor Blind: Emily Haines & The Soft Skeleton
24 Só tinha de ser com você: Elis & Tom
25 Changes: Seu Jorge
26 Yellow Submarine: The Beatles
27 You My Lunar Queen: Cousteau
28 Boobar: Tindersticks
29 Hey, Don’t You Cry: Stuart A. Staples
30 Serpentine: dEUS
31 Belle and Sebastian: Belle and Sebastian
32 Nature Boy: Lisa Ekdhal
33 Toothpaste Kisses: The Maccabees
34 John Wayne Gacy Jr.: Sufjan Stevens
35 Saddest Vacant Lot in the World: Grandaddy
36 String: Tunng
37 Eternal Flame: Joan as Police Woman
38 Love Will Tear Us Apart: Nouvelle Vague
39 Tire Swing: Kimya Dawson
40 Dream On Girl: Rita Redshoes
41 Seahorse: Devendra Banhart
42 Sacred Mountains: Aniwida And Nik Tyndal
43 JCB: Nizlopi
44 More Than This: Brian Ferry

Take 5

Travelling Without Moving

Brazil – Arcade Fire
London London – Cibelle ft. Devendra Banhart
L’Opaque Paradis – Zita Swoon
O Valencia – The Decemberists
Australia – The Shins
Sweden – The Divine Comedy
Spanish Caravan – The Doors
Tahiti – Bat for Lashes
Tiergarten – Rufus Wainwright
Lisboa que Amanhece – Sérgio Godinho/Caetano Veloso
California – Perry Blake
Goin’ to Acapulco – Jim James & Calexico
NYC – Interpol
Impossible Germany – Wilco
Amsterdam – Peter Bjorn and John
We’re from Barcelona – I’m From Barcelona
Chicago – Sufjan Stevens
Arizona – Kings of Leon
Tokyo – Athlete
In Berlin – Electrelane
Milan, Madrid, Chicago, Paris – Jay-Jay Johanson

156 bpm, good times galore

“… deixemo-nos de pieguices, nós que, em segredo, as adoramos.”, António Lobo Antunes

Há momentos de êxtase difíceis de explicar, por mais que nos preparemos para eles. E depois fica-se neste impasse de não conseguir encontrar o modo de expressão adequado e de haver uma qualquer força a empurrar-nos para a frente do palco para fazermos uma macaquice qualquer. Algo que mostre que o momento é especial e que acabámos de testemunhar algo único.

Às vezes é possível achar essa forma de expressão numa frase, numa cena de um filme ou numa passagem de um livro. Ou na música, sempre na música. Foi nela que encontrei o conforto melódico e expressivo, uma casa para as emoções do fim da tarde. Assim:

Mellon Collie and the Infinite Sadness: The Smashing Pumpkins
Everyday Is Like Sunday: Morrissey
Anyone Can Play Guitar: Radiohead
The State I Am In: Belle and Sebastian
Ziggy Stardust: Bauhaus
Do You Realize??: The Flaming Lips
The One You Love: Rufus Wainwright
The Certainty of Chance: The Divine Comedy
Le Soleil Est Près de Moi: Air
Fistfull of Love: Antony and the Johnsons
Ocean Of Noise (by Arcade Fire): Calexico
Bachelorette: Björk
Ob-La-Di, Ob-La-Da: The Beatles
Up With People: Lambchop
JCB: Nizlopi
The Times They Are A-Changin: Bob Dylan
Severance: Dead Can Dance
Starálfur: Sigur Rós
Looking for Astronauts: The National
Só Tinha De Ser Com Você: Elis Regina E Tom Jobim
Glory Box: Portishead
Let’s Pretend: Tindersticks
Personal Jesus: Johnny Cash
Summer Days In Bloom: Maximilian Hecker
Inquietação: JP Simões
Who By Fire: Leonard Cohen
Eu E Voce (Me and You): Stan Getz with Astrud Gilberto
O Filho Que Eu Quero Ter: Vinicius de Moraes

nunoromano

Celebração

 

toolbox.jpg

Calexico, Tool Box (2007)

Um novo disco dos Calexico é sempre motivo para festejar, principalmente quando surge de surpresa. A divulgação foi mínima, o que tem sobretudo a ver com o próprio registo sóbrio do album. Primeiro disco instrumental da banda, sobressai a faceta alternative country-mariachi que os caracteriza, desta vez com um forte componente blues. Sim, é isto mesmo. A ausência de vozes aumenta a carga musical e a importância dos arranjos, que estão realmente soberbos. Quase que dá para trincar o pó do deserto do Novo México e a ânsia de chegar à próxima sombra. Coventino e Burns estão uns senhores e esta é apenas mais uma prova disso mesmo. Não procuram o estrelato nem o circo dos circuito dos festivais. Fazem música e pronto. Parabéns Calexico! Conseguiram mais uma vez.

nunoromano